“A gente se olha com um só olhar e se entende porque passa pela mesma situação”. A frase de Elinalva Costa Viegas, 43 anos, retrata bem o que acontece com as integrantes do Grupo de Apoio Mulheres de Peito do Hospital São Domingos, projeto desenvolvido pelo Serviço de Mastologia e Núcleo de Humanização, com apoio de outros setores. O Grupo tem como objetivo informar, apoiar e acolher pacientes diagnosticadas, em tratamento ou curadas do câncer de mama proporcionando ainda a integração e a troca de experiência entre elas.
O Grupo foi criado em 30 de outubro de 2017 e as reuniões ocorrem mensalmente no auditório do Hospital e em alguns momentos ocorrem externamente, ao ar livre, em pontos que são cartões-postais de São Luís. No dia 28 de outubro, foi realizado o Encontro Rosa, em alusão à Campanha Outubro Rosa, no Espigão Costeiro, na Península, Ponta d’Areia.
Sob a sombra de uma árvore, as mulheres contaram, cada uma, suas histórias após receberem o diagnóstico do câncer de mama. Elas também participaram de sessões de relaxamento e alongamento com o terapeuta ocupacional Ximenes Junior.
Elinalva Viegas, por exemplo, compartilhou o quanto foi difícil ouvir da médica que estava com a doença. “Foi horrível. ‘A gente perde o chão’, mas depois tudo vai ficando mais claro. Pelo menos descobri no início e tudo ficou mais fácil. Agora, estou bem melhor, já concluindo o tratamento e a ajuda que recebo aqui no Grupo tem sido importante para ver que há outras mulheres com a mesma doença e que a enfrentam com garra, fé e conectividade com Deus. Falar com quem passa pelo mesmo problema e entende o que passamos, torna mais fácil o tratamento”, afirmou, com um lindo sorriso.
Socorro Rodrigues, 56 anos, disse que se sente mais segura desde que começou a participar dos encontros do Grupo Mulheres de Peito. “Aqui, a gente se solta mais, troca experiência com outras mulheres que estão passando pelo mesmo problema, a gente se apoia uma na outra. O Grupo trabalha o problema de cada uma, individualmente, pois cada uma de nós encara as coisas de forma diferente e tem sintomas diferentes. Essa união de pessoas lutando por mesmo um objetivo é muito benéfica”, afirmou ela, que já está só na fase de acompanhamento.
“Muito bom poder conversar com outras pessoas que têm os mesmos sintomas e sentimentos que os meus. Muitas vezes, conversamos somente com nossos familiares, que nos apoiam e entendem, mas faz muita diferença compartilhar nossos sentimentos, como os medos, com quem convive com o mesmo problema. É a primeira vez que venho à reunião do Grupo e já está me fazendo um grande bem só poder falar com quem sabe realmente o que se passa comigo”, disse Alzira Silva, 38 anos.
E é exatamente esse apoio e a oportunidade de troca de experiências, além de informar, tirar dúvidas e promover ações que elevem a autoestima, o objetivo do Grupo de Apoio Mulheres de Peito do Hospital São Domingos.
A mastologista Dra. Ana Gabriela Caldas explica que o Grupo de Apoio Mulheres de Peito surgiu de um momento inspirador da equipe da Mastologia. “Tratar o câncer de mama envolve uma série de situações, desde as clínicas às emocionais, então, em um determinado momento, vimos que precisávamos tratar e entender a complexidade dessa mulher como um todo. Muitas vezes, ela se sente só, acha que só ela está com o câncer. Possibilitar às nossas pacientes a oportunidade de compartilhar experiências e a integração com outras que têm o mesmo problema e vivem também as várias etapas do tratamento foi a grande motivação da criação desse grupo. É uma forma de oportunizar a elas momentos, para, juntas, entenderem o que estão passando e melhorarem esse manejo emocional, espiritual”, justificou a médica.
Ela disse ainda que esse tipo de ação permite uma visão muito mais ampla da paciente. “A pessoa em tratamento de um câncer traz consigo complexidades que precisam ser abordadas de uma forma personalizada, delicada e respeitosa para obtermos a saúde no sentido mais amplo, que é o corporal, emocional e mental, buscando o fortalecimento da pessoa como um todo”, complementou.
Benefícios
De acordo com a médica, o grupo proporciona muitos ganhos para as integrantes. “Mas o grande benefício é de você se sentir parte de um grupo, se sentir acolhida, saber que aquelas pessoas estão ali, única e exclusivamente para trocar energias. Não existe julgamento, só a arte do ouvir, do abraçar. Isso as inspiram, motivam, aproximam e as fortalecem para outras coisas que estão por vir e o conforto emocional melhora muito a forma como você passa por essas etapas”, observou Dra. Ana Gabriela Caldas.
De acordo com a supervisora do Núcleo de Humanização do Hospital São Domingos, Fernanda Moraes, o grupo proporciona momentos para as pacientes se reunirem e expressar seus sentimentos, de conversar, trocar suas experiências, receber orientações, tirar dúvidas e compartilhar suas angústias e medos. “É um grupo para acolhimento, compartilhamento, ajuda e sensibilização, e principalmente de apoio, de ajuda, para que essas mulheres entendam o que é o câncer de mama e o tratamento e superem esse momento. Durante as reuniões, elas compartilham suas angústias, medos, mas também dão força umas às outras e suas histórias mostram às demais que a doença pode ser curada, o que dá mais conforto e segurança para elas, tudo com o acompanhamento de médicos e da equipe multiprofissional”, afirmou.
Fazem parte do Grupo também, colaboradoras do Hospital diagnosticadas com câncer de mama, que recebem acompanhamento permanente por meio do Núcleo de Responsabilidade Social. A gestora do setor, Socorro Muniz, disse que os encontros têm proporcionado muitos ganhos para as integrantes.
“As mulheres com câncer de mama precisam se afastar do trabalho para o tratamento e isso, muitas vezes, acaba provocando reações emocionais e psicológicas que necessitam de uma atenção maior. Então, ao integrarmos as colaboradoras com outras mulheres que passam pela mesma situação, ampliamos o apoio a elas, oportunizando também terapias que melhorem o lado emocional, aumentando sua confiança e autoestima”, opinou |Socorro Muniz.