Por Michele Solis
Como a verdade e a beleza, a dor é subjetiva e difícil de definir. O que dói em um momento pode não ser registrado no seguinte. Além disso, nossos humores e pensamentos privam a experiência da dor de exatidão.
De acordo com um artigo publicado em abril na revista New England Journal of Medicine, porém, algum dia os pesquisadores talvez possam medir a sensação de dor por meio de uma varredura cerebral. Este seria um aprimoramento muito necessário para as atuais classificações subjetivas, situadas entre um e 10, que os pacientes devem utilizar para descrever a intensidade do que sentem.
Liderados pelo neurocientista Tor Wager, da University of Colorado em Boulder, os pesquisadores realizaram exames ressonância magnética funcional (MRI, na sigla em inglês) em voluntários saudáveis que receberam toques de calor nos braços — alguns agradavelmente mornos; outros dolorosamente quentes. Durante os contatos dolorosos, um grupo disperso de regiões cerebrais foi sistematicamente acionado.
Embora essas regiões tenham sido previamente associadas à dor, o novo estudo detectou um salto impressionante e consistente em suas atividades quando as pessoas relatavam sentir dor, com uma precisão muito maior que os estudos anteriores haviam atingido.
Essa assinatura neural apareceu em 93% dos participantes que disseram sentir um calor doloroso que aumentou à medida que a dor intensificava, mas cedeu quando eles tomavam um analgésico.
Os pesquisadores concluíram que a atividade cerebral marcou especificamente a dor física e não uma experiência desagradável de modo geral, porque ela não se manifestou nos cérebros das pessoas às quais foi mostrada a foto de um namorado que havia rompido com elas recentemente.
Apesar da dor física e a dor emocional envolverem algumas regiões em comum, o estudo mostrou que diferenças sutis na ativação distinguem as duas condições. Algum dia, um marcador de dor situado no cérebro poderia auxiliar os médicos a ajudar pessoas que têm dificuldades de comunicação, como as muito jovens ou as vítimas de um acidente vascular cerebral.
Wager, porém, não considera essa assinatura neural como um “detector de mentiras” para a dor. “Existem muitos elementos psicológicos e fisiológicos que entram no relato de dor de uma pessoa e nesse caso descobrimos apenas um deles”, observa o cientista. Muitos estados de atividade cerebral provavelmente provocam dor, acrescenta ele. “A dor não se resume a apenas uma coisa”.
As muitas idiossincrasias da dor - Enquanto os pesquisadores avançam na compreensão e no tratamento da dor, novas descobertas originam muito mais perguntas. As descobertas recentes revelam as profundas conexões entre a dor e muitos processos físicos e mentais essenciais.
Pacientes com dores crônicas nas costas tendem a ter dificuldade no aprendizado emocional, mas têm uma sensibilidade gustativa mais apurada. A dor crônica encolhe o cérebro até 11% em alguns casos.
Pessoas com dores crônicas podem aprender a controlar sua percepção de dor ao imaginar cenários agradáveis ou acreditar que um determinado estímulo é inofensivo. A memória de uma dor pode fazer com que ela persista por toda a vida, mesmo depois que lesão inicial tenha sarado.
Pessoas que sofrem de dor crônica podem aprender a associar um lugar à sua dor. Retornar a esse local ou espaço pode reforçar a associação negativa.
Fonte: Scientific American Brasil
http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/neurocientistas_identificam_padrao_de_dor_no_cerebro.html