Kelston Paulo Felice de Sales possui graduação em Medicina pela Universidade Estadual de Maringá (Paraná), residência médica em cirurgia geral e cirurgia vascular pelo Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo e Fellowship em Cirurgia Endovascular pelo Arizona Heart Institute em Phoenix nos Estados Unidos. Atualmente faz parte do corpo clínico do Instituto Cardiovascular (ICV) em São Luis, Maranhão, é responsável pelo Serviço de Medicina Vascular do Hospital São Domingos e é médico assistente do Serviço de Cirurgia Vascular e Endovascular do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão. Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Cirurgia Endovascular, atuando principalmente nos seguintes temas: aneurisma de aorta, doença arterial periférica, acesso vascular para hemodiálise e varizes.
Há quanto tempo exerce a medicina e o que ela lhe proporcionou neste período?
Estou formado há 12 anos marcados por muitas alegrias, muitos sofrimentos, lógico, e muita experiência de vida. A profissão me enriqueceu como ser humano, pois a arte de ajudar as pessoas a viverem melhor é uma coisa que traz uma gratidão muito grande. Obviamente, sofremos quando não conseguimos alcançar essa meta.
Como conseguiu conciliar a vida pessoal com a profissional?
São escolhas que você tem que fazer. Obviamente, quando você decide fazer alguma coisa na sua vida, tem que fazer isso bem feito. A pessoa que escolheu a medicina tem que ter uma prioridade. Você ajudar pessoas e salvar vidas às vezes não tem momento e precisamos estar preparados a abdicar de nós mesmos.
Graças a Deus conseguimos, hoje, trabalhar em equipe em uma instituição que oferece suporte para diluir a responsabilidade. É uma tarefa árdua você conseguir conciliar seu tempo, mas com bastante inteligência e com a compreensão das pessoas ao seu redor é possível sim.
Houve algum acontecimento especial em sua vida ao qual não pode estar presente por causa do trabalho?
Já aconteceram várias vezes, em reuniões festivas, eu não poder estar presente ou precisar me ausentar por causa de alguma emergência. Os plantões, eventualmente, nos obrigam a abrir mão de algumas datas especiais. Eu particularmente ainda tenho uma parte da família no Paraná e, muitas vezes, acabo preso aqui no período das festas por causa das obrigações da profissão. Acontece com bastante frequência, mas faz parte do sacrifício que eu assumi para exercer minha profissão.
Como você avalia o papel do médico atualmente?
Eu acho que é a mesma de todo o tempo. A medicina é uma profissão milenar. O médico desde a antiguidade exerce a função de ajudar as pessoas a viverem melhor, ajudar a salvar vidas e a superar momentos de problemas de saúde com o conhecimento que ele adquiriu. Hoje a tecnologia avançou muito e conseguimos dar muito mais qualidade de vida as pessoas. O papel do médico é ser interlocutor entre ciência e pessoas. Infelizmente não trabalhamos sozinhos e muitas vezes pela falta da infraestrutura o médico fica de mãos atadas sem condição de se fazer o melhor para o paciente.
Por que escolheu esta especialidade?
Eu quando escolhi a profissão tive algumas pessoas que me inspiraram com sua capacidade e inteligência na medicina. Durante o curso me identifiquei logo de cara com a área cirúrgica, com anatomia, etc. Isso é uma coisa que o médico sabe ainda no primeiro ano de faculdade. É algo relacionado com a personalidade.
Como era a graduação na época e como é hoje?
Na minha época, não faz muito tempo, nós tínhamos pouco mais de 82 faculdades de medicina em todo o Brasil e por isso havia uma cobrança muito grande em questão de qualidade, ou seja, as faculdades de medicina teriam que oferecer aos alunos um aprendizado pleno. Hoje em dia, com essa abertura de faculdades, eu não acredito que exista um controle sobre esta qualidade. Eu me preocupo muito com os acadêmicos de medicina estar perdendo muito desta qualidade.
Quais são os maiores inimigos da saúde no país?
Hoje eu acho que é a má gestão pública. A falta de investimentos no setor é o grande problema da nossa sociedade na atualidade. A rede privada e pública são dois sistemas que se complementam. A gente vê, o investimento em saúde pública é muito baixo. Eu tenho acompanhado esse crescimento até hoje e a quantidade de médicos por habitante é menor. A saúde pública piorou e a culpa é do médico? Não. O número desses profissionais e a qualidade aumentaram muito, mas você não vai conseguir fazer nada se não houver investimento.
O que você acha do programa “Mais Médicos”?
A medicina precisa de tecnologia. Não adianta ter médicos à disposição, se não tiver a estrutura necessária para que eles possam atuar. A maior causa de mortes são doenças cardiovasculares, traumas e câncer. Elas precisam de tecnologia e se o governo não disponibilizar isso de alguma forma acredito que não vai dar certo. Eu tenho grande receio de que todo esse investimento não vai resolver, talvez até piore a saúde pública do país. No primeiro momento parece uma coisa boa, mas não é. Não se questiona a chegada de novos médicos, mas a capacidade deles.
Qual é o maior desafio da vida?
Eu acho que o maior desafio da vida é você buscar qualidade de vida conciliando a tua profissão e os desafios que a vida lhe proporciona no dia a dia. Muitas vezes você acaba se dedicando tanto à profissão que acaba esquecendo-se de cuidar de você mesmo. Eu acho que [outro desafio é], todos nós, como médicos, mostrar ao governo que os nossos anseios são os mesmo que a população busca. Gostaríamos que o governo pensasse como nós e não simplesmente tomasse medidas que talvez não sejam as mais adequadas.
Qual é a grande lição que a profissão lhe proporcionou?
A maior lição que a gente pode ter é saber que não existe um bem maior que a vida do ser humano. Esse é o maior bem de todos. A busca por salvar e ajudar as pessoas a viverem melhor ... é como se você estivesse entregando esse bem maior. Eu acho que é isso.
Entrevista adaptada. Publicada no jornal O Imparcial (18/10/2013)