Há algumas semanas se tem acompanhado o drama do cantor baiano Netinho, que, após sentir fortes dores no abdômen e em uma das coxas, foi submetido a uma cirurgia às pressas e, desde então, está em estado grave internado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Sírio Libanês, com diagnóstico de problemas vasculares e alterações no fígado. Após avaliações médicas passou-se a suspeitar que os problemas decorrem do uso de hormônios sintéticos. O cantor utilizou esteróides e anabolizantes, para enrijecer a musculatura, e remédios antienvelhecimento, que incluem hormônios como a testosterona e o GH, o hormônio do crescimento.
Embora o uso dessas substâncias com fins estéticos seja proibido pelo Conselho Federal de Medicina, sabe-se que muitos praticantes de musculação recorrem aos esteróides anabolizantes para obter resultados mais rápidos, mas nem um pouco seguros. O resultado, muitas vezes, é desastroso e pode resultar em câncer, lesões musculares e até na morte dos utilizadores. Segundo Polyana Moreira, do Hospital São Domingos, além desses problemas, há sérios riscos de os hormônios deixarem de ser fabricados. “O organismo pode passar um comando ao cérebro e aquele hormônio deixa de ser produzido. É um processo natural, pois o corpo entende que não precisa fabricar algo que já está disponível para utilização”, afirma ela, que é especialista em endocrinologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Quando o organismo deixa de fabricar alguma substância natural, o restabelecimento dessa produção pode demorar muito tempo e isso afeta o corpo como um todo. “Embora não se tenha um estudo mais criterioso sobre esse assunto (pois, quem usa anabolizantes, não costuma assumir esse uso) pode-se afirmar que, mesmo quando a utilização dos hormônios sintéticos é interrompida, o organismo demora para retomar a produção hormonal e esse tempo é variável e depende de diversos fatores”, explica Polyana Moreira.
Efeito inverso – Além dos prejuízos internos, o uso de anabolizantes pode acarretar em problemas visíveis. Nos homens, os mais comuns são calvície, acne no rosto e nas costas, aumento das mamas (ginecomastia), diminuição no tamanho dos testículos, dentre outros. As mulheres também sofrem prejuízos aparentes, como crescimento de pelos em áreas onde antes inexistiam essas estruturas, calvície em alguns casos e alteração da voz. “Este último efeito é irreversível”, alerta a endocrinologista.
Polyana Moreira chama a atenção ao tempo que os anabolizantes necessitam para sair do organismo. “Se a interrupção for definitiva, as substâncias, em média, demoram três meses para serem eliminadas do corpo. Apesar disso, os riscos podem permanecer. O indivíduo pode ter desenvolvido um problema mais sério, como um nódulo hepático, um tumor, um câncer, hipertensão arterial, diabetes, problemas renais”.
Aditivos - Na contramão, mas também com o objetivo de incremento muscular, estão os suplementos à base de proteína e outras substâncias. Embora causem discussão sobre a real necessidade de utilização, esses produtos são liberados pela Anvisa e consumidos em larga escala pelos malhadores. Mas alguns especialistas defendem que, mesmo que pareçam inofensivos, podem sobrecarregar o organismo, logo devem ser consumidos somente após prescrição médica.
Polyana Moreira reforça a necessidade de uma consulta antes de consumir esses produtos e chama a atenção para outro aspecto: a possível presença de outras substâncias, além das que são descritas no rótulo. “A proposta das empresas é fazer com que os suplementos vendam e se consolidem no mercado. Para isso os resultados devem ser visíveis, sólidos. Por essa razão, alguns incrementam as fórmulas com hormônios e não revelam, por que isso implicaria em restrições por parte dos órgãos que fiscalizam essa comercialização”.
Em geral, esses suplementos são recomendados por instrutores, personal trainers e amigos. “Quando dá certo para alguém, é normal que surja o interesse por parte dos demais malhadores e isso acaba disseminando o consumo e a consequente consolidação do produto entre os praticantes de musculação”, ressalta a endocrinologista. “O ideal é que as pessoas procurem um especialista antes de consumir qualquer coisa. Para a maioria das pessoas uma alimentação adequada e hábitos saudáveis são suficientes para resultados satisfatórios, por isso uma avaliação séria é fundamental, para que o processo seja seguro”, finaliza Polyana Moreira.