Saúde

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A interface entre a genética e o surgimento do câncer

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Equipe São Domingos - Equipe São Domingos Atualizado em 31/10/2013

Muitas são as teorias existentes quando o assunto é câncer e muitas delas não passam de mitos. Entretanto, quando se fala sobre a influência da genética sobre a doença, é necessário que se considerem alguns aspectos importantes, visto que, não apenas o tratamento, mas métodos de prevenção, podem ser desenvolvidos a partir do conhecimento da interação entre os genes e o ambiente.

Segundo a médica geneticista Maria Juliana Rodovalho Doriqui, responsável pela palestra Câncer de Mama - entendendo a predisposição hereditária ao câncer e a importância do aconselhamento genético, que aconteceu durante a campanha Outubro Rosa do Hospital São Domingos, as síndromes de predisposição hereditária ao câncer correspondem a cerca de 5 a 10% das ocorrências de câncer na população geral. São centenas de síndromes geneticamente determinadas, com alto risco de desenvolvimento de câncer, tais como Síndrome de Câncer de Mama e Ovário Hereditários, Câncer Colorretal Hereditário Não Poliposo, Polipose Adenomatosa Familial, Síndrome de Câncer de Mama e Colorretal Hereditários, Síndrome de Li-Fraumeni, Retinoblastoma, Neoplasia Endócrina Múltipla tipo 2, Doença de von Hippel-Lindau, Melanoma Familial, Anemia de Fanconi, dentre outras.

Maria Juliana explica que a carcinogênese sempre se inicia após danos no DNA, em sua maioria essas alterações (mutações) ocorrem devido exposição a fatores mutagênicos (agentes físicos, tais como radiação - inclusive a ultravioleta; químicos -  como tabaco, metais pesados; ou biológicos (vírus HPV por exemplo), o que significa que qualquer célula normal pode ser local de origem de processos neoplásicos (cancerígenos). 

A médica afirma que, apesar das alterações genéticas encontradas no câncer, a maioria dos tumores são esporádicos, ou seja, não tem origem hereditária. “Mas o surgimento precoce da doença sugere herança genética. Câncer de mama em uma mulher com menos de 40 anos indica ser necessária uma consulta com médico geneticista, bem como a presença de mais de um tumor primário na mesma pessoa”, diz ela. E caso haja vários familiares com histórico de câncer, particularmente se forem parentes de primeiro grau (pais, irmãos e/ou filhos), o indivíduo também deve procurar um especialista em aconselhamento genético.

Apesar de a herança genética ser um dos fatores que pode predispor ao surgimento de um câncer, em geral é necessária também exposição a fatores mutagênicos para que a neoplasia comece.  Ou seja, ter uma mutação que predispõe ao câncer não significa que se irá desenvolver a doença. Entretanto, alguém que possui a mutação em todas as suas células apresenta um risco cumulativo superior ao da população em geral, e muitas vezes esse risco é maior para mais de um tipo de câncer. 

Isso ocorre porque o gene é herdado, mas, ele só desencadeia a neoplasia caso haja exposição a fatores ambientais que produzam novas mutações naquela célula. “Por exemplo: se há histórico familiar de câncer de pulmão e você fuma, a probabilidade de desenvolver a mesma doença é muito maior. Mas não ter casos na família não garante que o indivíduo não desenvolva câncer, particularmente se ele fumar em grande quantidade e/ou por tempo prolongado”, explica a médica. 

Investigação – A avaliação genética para os casos com indicação clínica (idade precoce, mais de um tumor primário na mesma pessoa, agrupamento familial de casos de câncer), é importante para entender quais os eventos relacionados ao câncer, o que permite que sejam tomadas medidas profiláticas para o próprio indivíduo que pode ter risco aumentado de desenvolver outro tumor ou mesmo para indivíduos da mesma família que podem estar mais suscetíveis à doença. “Um indivíduo com determinado câncer pode estar propenso a desenvolver outro tipo e uma análise mais detalhada pode evitar esse surgimento ou pelo menos aumentar a chance de cura”, esclarece Maria Juliana Doriqui.

A médica geneticista destaca, ainda, que após consulta detalhada, pode ser indicada avaliação de um gene específico já descrito em outras famílias com casos semelhantes; o exame dos genes é importante para se determinar quais possíveis tipos de câncer o indivíduo examinado pode vir a desenvolver, e também permite a avaliação genética dos familiares em risco, ainda que eles nunca tenham apresentado câncer. “A presença de câncer de mama não significa que outras pessoas da família desenvolverão a doença nesse mesmo órgão, mas pode ser um indicativo de que outras áreas do corpo podem ser afetadas. Além de indicar os tipos de câncer que esse indivíduo apresenta propensão a desenvolver, o exame genético possibilita identificar quais são os parentes que também necessitam realizar medidas preventivas”, afirma. 

Com os dados da história clínica, do exame físico e de exames complementares em mãos, o especialista pode indicar medidas, tais como: sugerir que se evite exposição a fatores ambientais que possam desencadear o câncer; recomendar monitoração periódica com exames preventivos; cirurgias profiláticas; e mesmo reprodução assistida para as pessoas que ainda desejam reproduzir, mas que não correriam o risco de o filho nascer com a mesma mutação. “São orientações individuais e familiares e, indicações de possíveis intervenções para que a pessoa possa tomar as suas decisões após ter obtido todas as informações necessárias. Ressalta-se que o tratamento precoce, também é uma forma de prevenção”, finaliza a médica.

Maria Juliana Rodovalho Doriqui é médica geneticista do Serviço de Oncologia do Hospital São Domingos. Atende, ainda, no Serviço de Referência em Triagem Neonatal do Maranhão - APAE São Luís; na Maternidade Marly Sarney; no Complexo Hospitalar Materno Infantil - Hospital Infantil Juvêncio Mattos e Maternidade Benedito Leite.

A geneticista possui mestrado Programa de Pós-Graduação Saúde Materno-Infantil da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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